
de Jorge Soto,
Acordo bem disposto, tomo um breve desjejum e arrumo minhas coisas p/ zarpar logo na sequencia, as 5:30. Me dirijo à praia, onde dou as costas ao disco rubro q emerge lentamente no oceano, a leste, e tomo rumo contrario, pisando no chão duro e plano da enorme e extensa praia a minha frente. Não demora e alcanço a pta ao final da enseada, q nada mais é q uma enorme falésia avermelhada, q me acompanha durante um bom tempo, à minha esquerda. E as 6:40 termino chegando na Pta do Mel, q recém desperta c/ seus jangadeiros lançando-se ao mar p/ mais um dia de labuta. Visivelmente c/ + infra q a pacata Rosado, o vilarejo tem, alem de ruas de paralelepípedo, mto mais comercio entre seus quiosques e palhoças.
Após descansar 15min à sombra de um toldo improvisado c/ palhas de carnaúba trancada, retomo minha pernada indo de encontro à extensa e interminavel q faixa de areia q domina a próxima enseada, deserta por sinal. Diferente dos dias anteriores, alem de dunas douradas e avermelhadas, uma sequencia de falésias de cor rubra, amarela e alaranjada bordejam boa parte do caminho, ao longe. E lavou eu, andando novamente sozinho, enqto o vento fustiga minhas pernas c/ grãos de areia. Mas subitamente me deparo c/ jovens, senhoras e criancas, espalhados em grupos pela praia, enfiando a mão na areia, como q buscando alguma coisa alguma. Penso q tao coletando conchas, mas não. Estão atrás de um molusco chamado "caioba" q juntam em enormes sacolas p/ ganhar seu sustento. Os olhares não disfarçam quem ta mais curioso e surpreso c/ quem; se sou eu por vê-los aqui sob aquele sol matinal ou eles por me verem c/ um enorme trambolho nas costas.
A chegada à Pta Redonda (ou São Cristóvão) é precedida por uma enorme muralha rubra à minha esquerda. Após me espremer por alguns rochedos e recifes, deixo a praia e tomo um atalho por cima da falésia q me leva direto à vila. O alto do morro é o melhor mirante do dia. Do lado do pitoresco cemitério local cheio de cruzes coloridas, o visual impressiona: num giro de 360 graus temos o deserto, a caatinga e o litoral tupiniquim juntinhos, onde a retidao do mar se funde c/ o ceu azul. As 9hrs alcanço a simplória e rustica vila às margens de uma linda praia, cujos quiosques estão tds fechados, mas exibem varais de secagem de peixe aos montes. Por sorte, consigo q um faca exceção p/ mim em troca de uma boa prosa. Tomando uma boa breja gelada, o dono reclama do movimento zero, do governo q não leva água encanada nem eletricidade, enfim, de uma estrada decente q facilite o acesso ate ali. Me pergunto se é justamente esse o encanto do local.
Continuando a pernada 2hrs depois, prossigo atraves de uma bela enseada de água azul turquesa, ladeada por dunas e coqueiros q lhe conferem um belo contraste de tons. O sol rijo desta vez foi substituído por uma rara nebulosidade clara e um forte mormaço. A enorme praia so não é totalmente deserta pq tem algumas casas e palhoças esparsas, porem sem sinal algum de vida. O final da enseada é marcado uma ponta c/ lajedos e algumas pedras.
Tomando uma estradinha de areia, logo caio na enorme enseada sgte, q por sua vez se caracteriza por uma praia estreita e levemente ingreme, tomada por muitos arbustos. A maré alta inviabiliza caminhar o tempo td pela areia e nos obriga a adentrar muitas vezes nos arbustos e seguir trôpega e cansativamente por estradas de areia paralelas à mesma. Mas qdo o terreno parece nivelar numa praiona plana e larga, retomamos nosso ritmo normal de pernada pela orla.
O calor das 13hrs parece emanar do chão e é quase palpável, mas por sorte chego em Morro Pintado, q nada + é outra enorme praia ao sopé de uma enorme falésia vermelha tomada pelo mato, onde despontam algumas casas escondidas. Felizmente tenho água suficiente e, sentado num tronco na areia à sombra de uma pequena arvore, me dou um descanso e faço um rápido lanche.
Voltando à pernada, continuo decidido costeando aquela interminável enseada durante + 2 longas hrs, em ritmo inalterado. Mas logo as falésias e dunas somem, dando lugar a uma vasta planície de restinga rala q se estende continente adentro. Aos poucos, começam a surgir casas e algum comercio. Estou em Baixa Grande e são apenas 16hrs. Ali, tomando + uma cerveja num dos poucos quiosques abertos, sou informado q p/ chegar ate meu proximo destino, Areia Branca (distante uns 5km), teria de atravessar dois rios fundos e q a probabilidade de não haver barqueiro era enorme.Bem, ai tive q tomar a decisão de encerrar ai minha pernada, pois não desejava surpresas q atrasassem meu cronograma já estourando. Alem do mais, apesar de bonita, me disseram q Areia Branca tava bem muvucada, repleta de turistas, e tive receio de encontrar lugar decente la p/ acampar, caso houvesse necessidade disso.
Sendo assim, após uma boa chuveirada p/ remover o suor e a maresia q deixa a pele grudenta, atravessei Baixa Gde e me lancei ao asfalto q me levaria à BR-110. Antes, porem, me abasteci de água já prevendo ter de acampar a beira da estrada. Contudo, consegui negociar uma lotação q me levou à pacata Areia Branca, maior cidade da Costa do Sal. Incrível como aqui td gira em torno das salineiras, onipresentes durante td o trajeto do "alternativo", justificando o fato das águas mornas everdes daqui terem a 2ª salinidade maior do planeta, perdendo apenas pro Mar Morto. Na sequencia rumamos p/ Mossoró, onde acampei do lado da rodoviária, e esperar ate o dia sgte p/ tomar busao ao meu proximo destino. Mas ai já é outra historia.
E essa foi minha jornada pela Costa do Sal, um lugar sob mtos aspectos igual a tantos outros do litoral nordestino. Dunas douradas e falésias avermelhadas se derramam sobre praias de areia branca desertas banhadas pelo mar turquesa, formando um lindo contraste. Onde pescadores em vilas perdidas estendem sua rede na colheita diária do almoço, acompanhados de perto pelas gaivotas. Mas la existe tb a caatinga, cujos galhos ressequidos não se deixam verdejar pela aproximação do oceano, e cuja rudeza agreste parece coroar aquele cenário peculiar já formado. E o melhor é q td isso esta longe de qq muvuca do turismo convencional. Mandacarus, bodes e jegues parecem apenas querer criar uma moldura p/ dar proteção a este pedacinho quase intocado de Brasil. Um pedacinho onde o mar vira sertão e sertão vira mar, neste Brasil de sal e sol.
Parte de texto do artigo “Costa Branca (RN)...a pé!”,publicado em 17/03/2009 no site Mochileiros. com