terça-feira, 26 de outubro de 2010

Calamidade No Nordeste



O Relato

Nos idos dos anos 60, visando reforçar o atendimento do SAR a determinados tipos de emergências, onde o emprego de helicópteros era fundamental, a 1ª ELO foi acionada algumas vezes nesse sentido, mediante o transporte aéreo do H-13 a bordo de um C-82, para agilizar o deslocamento às grandes distâncias...

... No decorrer da missão, foram surgindo outras incumbências para o H-13. O coordenador do governo estadual liberou o helicóptero para jornalistas que cobriam a calamidade, trazidos a Mossoró pelo C-47, em detrimento do material pesado de oficina para manutenção do H-19, os quais foram levados para sobrevôo da salinas de Areia Branca, inundadas na foz do rio Apodi, atrasando as missões de atendimento aos flagelados. Nessa oportunidade, estivemos também na localidade de Passagem de Pedra, onde dias antes um médico levado pelo helicóptero havia socorrido diversos enfermos, o que me valeu um presente inesperado – uma galinha viva. Não podendo recusar a oferta para não ofender aquela gente simples e despojada, o presente me foi útil mais tarde.

De outra feita, o próprio coordenador oficial, então pré-candidato nas eleições estaduais próximas, utilizou o H-13 por quase todo o dia para percorrer redutos eleitorais, promover reuniões políticas e fazer “corpo-a-corpo”. Esta última ação eleitoreira ganhou aspectos inconvenientes, quando o helicóptero da FAB, pilotado por um Oficial da Ativa, sobrevoou um acampamento de caminhoneiros retidos na estrada para Açu aguardando o conserto de uma ponte que ruíra, depois de visitado pela autoridade e, a seu pedido, devia deslocar-se “baixinho e devagarinho” ao longo da estrada congestionada para ele dar adeusinhos.

Esses fatos, reportados aos nossos Comandantes, precipitou a presença em Mossoró do Comandante do 2º/10º Gav, que assumiu de pronto a condução da missão. Embora sua chegada tenha ocorrido em menos de 24 horas, após a comunicação das ocorrências, o H-13 permaneceu no solo em “manutenção preventiva”.

Dias após, tendo se esgotado as horas disponíveis do helicóptero, foi programada uma troca por outro aparelho, que já chegara a Natal para esse fim.

O traslado do H-13 no trecho Mossoró/Natal foi planejado para um vôo de 02:30 horas, com 20 litros de gasolina extra na cabine, quando o sentido inverso foi feito em 01:40 horas. Já no trajeto, o vento forte do Nordeste subjugou a performance da possante aeronave e tivemos de realizar um pouso técnico e final na localidade de Jardim de Anjicos, depois de solicitar pelo rádio um reforço der combustível.

Enquanto aguardávamos o socorro, o guarda-campo local convidou-nos para almoçar em sua casa, uma habitação modestíssima, onde sua esposa nos preparou uma refeição com ovos, arroz e frango desfiado e nos serviu com tanta diligência que nos comoveu. Foi o mesmo que um banquete, considerando as carências que se percebia ao redor.

Na pequena cidade, a população inteira cercava a casa e nos observava como se estivesse vendo extraterrestres , talvez devido ao macacão de vôo com adereços operacionais e o porte ostensivo de arma individual, mas principalmente pela “nave alienígena”, que a todos espantou, quando sobrevoamos as casas e estacionamos no terreno ao lado.

Mais tarde, um T-19 chegou com o combustível e, ao taxiar no gramado alto, entrou numa vala encoberta quebrando a hélice de madeira. Usamos sua gasolina à vontade e trouxemos o piloto conosco para Natal.

Dois dias depois, já nos encontrávamos novamente em operação, vivendo acontecimentos inesquecíveis até o término da missão, quando o rio Apodi baixou permitindo o retorno da normalidade na região afetada.

Regressando a Natal, antes das providências para embarque do H-13 no C-82, tivemos o prazer de atender muitos pedidos de “turno de pista” dos companheiros que ainda não haviam experimentado o sabor de vôo com asas rotativas.

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