segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Pedro Januário no Ocaso do Cangaço

Pedro Januário

Dia de Vida ou de Morte

da fazenda Girassol, onde morava o seu amor. O boato já estava espalhado. Com a matutada na espreita, Pedro, cheio de coragem, encostou Gato Prêto na porteira, agachou-se com cuidado - Para os lados de Areia Branca, interior do Rio Grande do Norte, quando Pedro tinha 27 anos, Rosa da Joana, môça bonita das pernas grossas e cabelos longos, andava meio apaixonada pelo “Rei da Capoeiras”, como era conhecido. Com aquela arrogância de cabra macho, cismou um dia e anunciou que ia carregar Rosa, de qualquer jeito.
Gato Prêto estava amarrado debaixo de um pé de oiticica, onde Pedro costumava deixar os bilhetes para a Rosinha. Não pensou duas vêzes. Vestiu a calça de linho branco e uma camisa azul clara de chitão. O chapéu de abas largas não podia faltar. O cigarro BB estava no bôlso, do lado esquerdo.
A tarde morria lá para as quebradas do Dendé. Rodava o tambor do seu 38. Roubar Rosa da Joana seria a missão. Ela tinha um cabra doidinho por seu coração. Pedro Januário não gostava nem de ouvir falar nisso. Era um dia de vida ou morte. Às quatro da tarde, partiu, com revólver, peixeira e fuzil.
Duas léguas e meia até a porteira, para não sujar o linho branco e brilhoso da sua calça, e foi em direção à casa de Rosinha.
Antes, teria que enfrentar mata de cajueiros, um riachinho fino e pequena camada de mata-pasto. Mas nada disso importava. Ela tinha as pernas grossas e sabia ninar gente grande. Era tudo para o “Rei das Capoeiras”.
A primeira recepção foi um tiro, que pegou na barriga e foi sair lá atrás, pelas costelas. Na hora, Pedro praguejou:
- Ah desgraçada. Tô baleado, mas vou aí nem que seja engatinhando.
E foi mesmo. Fulminou uns pestes que estavam de tocaia na Girassol, levou Rosinha e com ela viveu pequena temporada. E esclarece por que a deixou.
- A muié tava ficando muito sapeca. Tive que lhe dar uma surra e nunca mais a gente se encontrou.
Na edição de O Cruzeiro de 15/09/1970
Reportagem de WANDERLEY LOPES e WALTER LUIZ

Leia matéria completa em:
O Cruzeiro

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